Artigo: O porquê Bolsonaro não pode (em hipótese alguma) ser reeleito

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Por: Gustavo Girotto* e Raphael Anselmo**

Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Há inesgotáveis argumentos que reforçam o porquê Bolsonaro não pode (em hipótese alguma) ser reeleito.

Atraso e desprezo na compra de vacina, negacionismo de uma Pandemia que matou 665 mil brasileiros (2° maior número de óbitos no mundo), populismo, sucateamento dos direitos trabalhistas, intervenções em estatais (com exceção para controlar preço de combustíveis), atrasos nas privatizações, descontrole fiscal, crescimento econômico pífio, instabilidade política, inflação. Essas já seriam razões mais que suficientes, mas os riscos de embarcar nesta aventura são incalculáveis.

Com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, o salário mínimo do Brasil perdeu o poder de compra pela primeira vez, desde a implementação do Plano Real, em 1994. Bolsonaro vai terminar o mandato, em dezembro de 2022, como o primeiro presidente a deixar o salário mínimo valendo menos do que quando entrou. Com inflação acima de 10% (basta ir ao mercado) e combustível que dobrou de preço em dois anos, Guedes, de Posto Ipiranga, passou a ser conhecido como Impostor Ipiranga: a sua trajetória foi um fiasco – e a conta está pesando no bolso do brasileiro.

Outro ponto de atenção é a abertura de duas vagas no Supremo Tribunal Federal (STF) após a aposentadoria dos ministros Ricardo Lewandowski e Rosa Weber em 2023, o que se torna um risco institucional no horizonte. Durante o atual governo, foram nomeados os ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça – ou seja, com as saídas de Lewandowski e Weber, Bolsonaro colocaria em curso mais dois indicados, enfraquecendo a Suprema Corte. O tema, para alguns analistas, é até mais importante do que as próprias eleições.

O clã Bolsonaro não mira só poder, mas a autodefesa por meio de imunidade parlamentar. Os três filhos fazem parte de um projeto maior; Eduardo Bolsonaro (que quase virou embaixador em Washington), inclusive tinha como fiador o místico da Virgínia, Olavo de Carvalho. Ele quer ser a sucessão do pai, o que parece ser algo distante, mas há um plano em marcha. De pai para filho (a), do marido à mulher, do avô ao neto (a): a política brasileira é um negócio de família – guardem isso em mente.

Oposição e legendas independentes avaliam, em sua maioria, que sinalizações antidemocráticas do presidente têm que ser levadas a sério: o país deve sim se preocupar com a possibilidade de Bolsonaro tentar um golpe eleitoral, principalmente se o adversário vencer na vírgula (com pequena margem). Um golpe, como flertado pelo atual presidente, traz muito mais insegurança política, institucional e econômica do que um impeachment – ou seja, tal êxito isolaria o país e seria o mais degradante dos cenários econômicos para o Brasil, uma vez que afundaríamos em uma crise sem precedentes.

De maneira simples de entender: Bolsonaro é um risco à democracia do Brasil e Guedes é um risco à economia. E uma coisa precisa ficar clara no cenário local: prefeito, vereadores e lideranças que apoiam – e continuarão apoiando essa plataforma fracassada – são os responsáveis pelo elevado custo da inflação que está pesando no seu bolso. Muitos desses gostam, por incrível que pareça, do alto índice de desemprego que ficou sempre acima dos 10% em todo governo Bolsonaro. Eles acham que é bom para suas empresas, uma vez que conseguem mão de obra mais barata. É claro que, em defesa da ‘moral cristã e dos bons costumes’, vão contra-argumentar dizendo que há uma crise global por conta da pandemia; também que o cenário agora se agravou por conta do conflito entre Rússia e Ucrânia, mas se esquecem de mencionar que o Brasil teve a terceira pior taxa de crescimento econômico do mundo. Ou seja, fatores que afetam todas as economias, mesmo as mais abastadas, colocaram em xeque ainda mais a plataforma “liberal” de Bolsonaro/Guedes. Uma vergonha!

A velha cortina de fumaça bolsonarista que empurra para debaixo do tapete denúncias de corrupção em compras públicas de ônibus, viagra, implantes penianos, leite condensado, além do escândalo do MEC, envolvendo pastores que cobravam propina em ouro e visitaram 35 vezes o Palácio do Planalto e a portaria que permite que generais ganhem R$ 350 mil a mais ao ano (apelidada de mensalão da farda) – tenta encobrir aos olhos esse emaranhado de escândalos. O Mito, com medo de debates e sua ineficiência em apresentar e defender propostas que irão nos tirar deste lamaçal (que ele mesmo nos colocou), já ensaia sua malfadada investida: lançar o mote do temeroso e assombrador fantasma do comunismo com requintes de fake news para tentar se manter mais 4 anos no poder, trocando delegados que investigam seus filhos do comando da Polícia Federal e todo arsenal de uso do poder principalmente para grandeza de ganhos pessoais. No fundo, leitor, dar um novo cheque em branco ao Bolsonaro é risco incalculável. A decisão é sua… mas a conta novamente que pesará no bolso: essa é nossa…

*Gustavo Girotto é jornalista

**Raphael Anselmo é economista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

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